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Cálix bento - Milton Nascimento

  • Foto do escritor: Ana Cláudia Sousa
    Ana Cláudia Sousa
  • 2 de nov. de 2021
  • 1 min de leitura

Não acredito em Deus. Nunca nenhum Deus me despertou interesse, admiração,

curiosidade. Dito isto, reconheço que muita música que ouço, muitos livros que li e leio,

muitos quadros ou edifícios que admiro só existem porque os seus autores acreditavam na

ideia de Deus; por isso, agradeço a ideia, mesmo não a partilhando.


Porém, existe Milton Nascimento. Milton Nascimento é a voz que me afeta mais do

que qualquer outra, me alegra e me perturba mais do que qualquer som no mundo. Caetano

Veloso disse, em tempos, que o falsetto de Milton Nascimento é o mais belo som humano, o

que mostra que não sou o único com a sensação de atingir um limite, face a essa voz; melhor:

de ultrapassar, com ela, todos os limites.


Por isso, a dificuldade de explicar a voz de Milton Nascimento e o que me faz sentir

levou-me a compor uma frase que uso, quando falo dela. É assim: “Se Deus existe, Ele é a Voz

de Milton Nascimento”. Pode ser estranho um não crente falar de Deus, para explicar o que

sente; mas é assim que gosto da música, da literatura, da pintura, da arquitetura – em suma,

da Arte: um abalo profundo, capaz de pôr tudo em causa e que me faça pensar nas coisas (isto

é: em mim) como se tudo estivesse a começar.


“Cálix bento” integra o disco Geraes (1976), segunda parte de um díptico iniciado com

Minas, no ano anterior, e dedicado ao estado de Minas Geraes, onde Milton só não nasceu. A

imagem do vídeo é a capa do disco. O desenho é do próprio Milton Nascimento.


Rui Fabião

Professor de Português

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